**ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O SINCRETISMO **

Um dos assuntos que mais tem chamado a atenção daqueles que militam no meio umbandista, e que tem causado uma grande confusão principalmente na mente dos iniciantes do Culto Umbandista, é, sem dúvida, o Sincretismo Religioso, para quem não sabe o que significa sincretismo ele é (Tendência à unificação de idéias ou de doutrinas diversificadas e, por vezes, até mesmo inconciliáveis).Para entendermos melhor o processo de semelhança entre as divindades cultuadas pelos diversos povos africanos e os santos católicos, e seus reflexos dentro da Corrente Astral de Umbanda, necessário se faz voltarmos ao século XVI, período em que os negros começaram a desembarcar em Terras de Santa Cruz (Brasil).Tratados como bichos pelos senhores de engenho, os negros escravos, nas poucas horas de descanso, praticavam rituais próprios de adoração e evocação de suas divindades, as quais chamavam de orixás. No entanto, eram fortes a influência e a pressão que os sacerdotes católicos exerciam sobre os latifundiários, para que estes os auxiliassem na tarefa de destruir a religiosidade dos negros.Pois bem, diante da feroz vigilância e repressão, os negros, inteligentemente, passaram a utilizar em seus rituais imagens de santos católicos, que colocavam em seus altares (congás), ocultando a representação de seus deuses por sob as ditas imagens, e com isso passando aos brancos a idéia de estarem cultuando os santos.Com o avanço do processo de conhecimento dos negros sobre o catolicismo, estes começaram a detectar alguns pontos em comum entre as divindades africanas e os santos da igreja.Descobriram por exemplo que São Sebastião foi vítima de flechadas no interior da mata, assemelhando-o a Oxósse, o orixá das matas e cujo símbolo é o arco e a flecha. Tomaram conhecimento que São Jorge tinha sido um soldado com muitos feitos militares, passando os negros a assemelhá-lo a Ogum, o orixá protetor dos agricultores e vencedor de batalhas, e cujos símbolos são a espada e a lança, instrumentos que eram utilizados também pelos militares no Império Romano. Tiveram conhecimento também que São Lázaro teria tido seu corpo coberto de chagas, assemelhando-o de pronto a Omulú /Obaluayê, orixá responsável por doenças reajustadoras .Assim aconteceram outras semelhanças entre orixás e santos católicos. De acordo então com a divindade cultuada em determinado dia, os negros utilizavam as imagens dos santos assemelhados, para despistarem os brancos do seu verdadeiro culto. Deste histórico anteriormente citado é que sedimentou-se o sincretismo, ou seja semelhança entre orixás e santos, os primeiros, divindades africanas, os segundos, personalidades da igreja católica.Até aqui os leitores puderam observar que as religiões inseridas no contexto são o catolicismo e os cultos africanistas. Assim sendo, a Umbanda jamais esteve presente no processo de sincretismo, pois sequer tinha sido anunciada no plano físico, pois ela veio a surgir em 15 de novembro de 1908, no distrito de Neves, Niterói – RJ, através do médium Zélio fernandino de Moraes que "encorporou" um espírito missionário que apresentou-se como Caboclo das Sete Encruzilhadas que deu inicio a Umbanda. A confusão começa quando algumas pessoas ligadas aos cultos africanistas, e por isto enraizadas no sincretismo já falado, começam a migrar para a Umbanda. Achando que as Potências Cósmicas capitaneadoras da Umbanda e suas divindades são a mesma coisa, trazem também o sincretismo afro-católico.Deste equívoco, vemos hoje como resultado umbandistas estarem numa Gira em louver a Cosmopotência nomeada Ogum, reverenciando São Jorge; numa Gira em louvor a Cosmopotência nomeada Oxósse, reverenciando São Sebastião; numa Gira em louvor a Cosmopotência nomeada Xangô, reverenciando São Jerônimo, e assim por diante.Respeitamos os santos católicos que, diga-se de passagem, foram encarnados como nós, com virtudes e defeitos, mas devemos ter em mente que os mesmos são próprios da igreja católica e não da Umbanda. Por conta disto, o número de imagens nos templos umbandistas cresceu assustadoramente, parecendo mais altares católicos. Não negamos que as imagens, assim como os retratos e pinturas, representam para alguns um ponto de referência, de fixação, para concentração e oração. Porém, o mais importante é que os umbandistas tenham ciência de que as Potências Cósmicas da Umbanda (nomeadas Orixás), Santos Católicos, e Divindades Africanas, embora devam ser alvos do mesmo respeito, não são a mesma coisa. Na verdade o que ocorreu foi o respingamento na Umbanda de questões havidas entre o Catolicismo e os Cultos Africanistas. Esperamos com isto termos esclarecido nossos irmãos, desejazndo que daqui por diante possam pautar sua fé e devoção com convicção e discernimento.