**A UMBANDA ESTÁ PERDENDO SUA IDENTIDADE**

Vivemos uma época de grandes e repentinas transformações nos variados meios sociais intercorrentes.
Com isto nos precipitamos cada vez mais a aperfeiçoar nossa capacidade de observação e eventual assimilação no que tange a mudanças conceituais e comportamentais que invadem nossas vidas.
O que outrora nos parecia fora de nossas realidades subjetiva e objetiva, paulatinamente vai tomando espaço em nosso dia-a-dia, acabando por influenciar a maneira de sermos, observarmos, e firmamos conceitos acerca de pessoas, fatos e atos do cotidiano.
Se for certo que invariavelmente somos assolados por uma onde de teorias e práticas sobre o que pensamos ou fazemos, mais certo ainda é tomarmos de forma serena e imparcial uma posição analítica e ativarmos a lógica e a percepção que contemos, para então chegarmos à conclusão quanto a ser prejudicial ou não a absorção e aplicação de novas idéias, novos parâmetros.Trazendo o contexto supracitado para nossa amada e imaculada religião, detectamos que a Umbanda também é invadida por um número considerável de conceitos e ações, que, sob nosso ponto de vista, deveriam ser melhor discutidos antes de eventual implantação dentro de nosso meio religioso.
De forma alguma somos avessos ao progresso ou aperfeiçoamento de nosso seguimento de fé, uma vez que é da essência da evolução procurarmos novas fórmulas, novas experiências, úteis a uma nova realidade.
O que não devemos fazer é simplesmente derramarmos dentro do Movimento Umbandista (conjunto de pessoas ligadas à religião), aí inserido os Templos, determinados conceitos e práticas, sem que antes haja um apurado, substancial e criterioso estudo sobre as eventuais situações que possam surgir e seus reflexos dentro da Umbanda-religião.
E estes reflexos, não obstante a boa fé de alguns, nem sempre serão benéficos à estrutura de nossa religião.Tomemos como base, por exemplo, a questão do nominado Povo Cigano na Umbanda e sua influência na identidade de nossa religião.Sabemos que os espíritos que militam na Corrente Astral de Umbanda tiveram uma série de encarnações em várias épocas e partes de nosso planeta, em diferentes grupos religiosos, étnicos, culturais, intelectuais etc.
Embora tenham absorvido uma gama de conhecimentos e influências provindas de suas respectivas vias encarnatórias, ao ingressarem nas incomensuráveis legiões espirituais de Aruanda passam a se expressar no plano físico (terreiros) segundo as regras de funcionamento e apresentação da Umbanda-religião, aderindo e se submetendo às bases, diretrizes e características implantadas na religião pela Espiritualidade Maior.
Desta forma, ao se acoplarem em seus médiuns para o labor caritativo, estes espíritos, atendendo à normas superiores, apresentam-se durante uma gira ou sessão com o corpo astral de Caboclos (as), Pretos(as)-Velhos(as), Crianças (Ibejis), Exus e Bombogiras, ou, no mínimo, com as características destes quatro arquétipos (modelos) basilares da religião, significando cada um destes:
Caboclos(as): liberdade, ímpeto, simplicidade, dinamismo, altivez etc.


Pretos(as)-Velhos(as): paciência, carinho, resignação, sabedoria,humildade etc.
Crianças: alegria, ingenuidade, felicidade, espontaneidade, pureza etc.

Exus/Bombogiras: informalidade, sinceridade, companheirismo, executoriedade, resgate etc.

Vistos sobre outra ótica tais arquétipos expressam também o ciclo de vida dos seres humanos.
Fica claro então que os modelos de manifestação espiritual não foram fixados de forma aleatória, sem critério.
Antes, porém, foram definidos segundo as necessidades dos seres humanos em verem projetadas em si as significações que cada arquétipo emana em nosso racional e em nosso emocional.
Há aqueles que se identificam mais ou têm a necessidade de estarem diante da figura altiva de um Caboclo (a), ouvindo deste (a) mensagem de coragem, luta, ânimo e vitória.

Há outros que se afinizam ou necessitam da imagem e consolo paternais ou maternais de um Preto(a)-Velho(a).

Também temos aqueles que se sentem atraídos ou necessitam da informalidade e da sinceridade contidas nas palavras dos Exus e Bombogiras.

Por fim, existem indivíduos que têm maior simpatia ou precisam estar diante da alegria e da felicidade dos adoráveis Ibejis (Crianças).

A partir daí asseveramos que os espíritos em atividades nos Templos Umbandistas têm que necessariamente utilizar um dos quatro modelos (arquétipos) retromencionados, não importando que tenham tido existências físicas sob as vestes de brancos, negros, amarelos ou vermelhos, ou que tenham pertencido a grupos étnicos ou religiosos tais como árabes, judeus, curdos, ciganos, protestantes, católicos, budistas, mongóis, indígenas etc.Experimentem manter diálogos com as entidades espirituais que se manifestam na Umbanda e atestarão que por trás das formas fluídicas ou dos caracteres de Caboclo(a), Preto(a)-Velho(a), Crianças, Exus e Bombogiras encontram-se espíritos que tiveram existência orgânica em diferentes raças, religiões e outros grupos terrenos.
No entanto, tal qual em um encontro solene onde os convidados trajam roupas apropriadas ao evento, também na Umbanda os Guias e Protetores ligados a esta corrente astral "vestem"um dos quatro arquétipos (modelos) já mencionados, seja através de plastia em seu corpo astral (perispírito), seja através da exteriorização de determinados caracteres.
Findo o ato incorporativo alguns espíritos retomam a forma perispiritual com que mais se afinizam, enquanto outros espíritos permanecem no Plano Astral com uma das quatro roupagens fluídicas, para as mais diversas finalidades. Ressalta-se que as formas arquetípicas são utilizadas em consonância com o tipo de missão ou necessidade individual das entidades.
Ante o exposto, consideramos sem sentido e completamente incoerente a implantação de sessões destinadas aos espíritos ciganos (incluindo o uso de trajes tradicionais, adornos e adereços).Por quê? porque os espíritos que encarnaram e desencarnaram como ciganos há muito já laboram na Umbanda, porém dentro de um dos quatro arquétipos da religião. E é notório que os espíritos que se manifestam e adotam características ciganas não são arquétipos, pelo menos para a Umbanda.
Para aqueles espíritos psiquicamente ligados ao ciganismo não faltam templos ciganos onde poderão se manifestar e livremente expressar as características da tradição religio-cultural que abraçaram quando encarnados, além de poderem utilizar o vestuário, rituais, e os cânticos que lhes são afins.
Ao se aceitar a manifestação de espíritos cujos médiuns utilizem indumentárias ciganas, pratiquem rituais e musicalidade próprias do Povo Cigano, os que assim agem terão que abrir espaço também para individualidades espirituais ligada ao Bramanismo, Budismo, Catolicismo, Protestantismo, Islamismo, Zoroastrismo, e outros mais. Veremos desta maneira espíritos incorporados, cujos médiuns vestirão turbantes e túnicas da religião bramânica; recitando o livro sagrado do Islã, o Alcorão; utilizando batinas próprias dos sacerdotes católicos; trajando terno e gravata com a Bíblia empunhada na mão tal qual pastores protestantes, e assim por diante.
E aqueles favoráveis à introdução da tradição religio-cultural cigana nos terreiros não terão argumentos para negar a estes espíritos de várias influências a oportunidade de assim se expressarem.
E o que acontecerá ?- A Umbanda sofrerá um danoso processo de descaracterização ou perda de identidade como religião.
Seus arquétipos ficarão ofuscados pela miscelânea criada.
De maneira alguma queremos segregar ou discriminar as incontáveis individualidades espirituais dispostas a amparar encarnados e desencarnados, e ávidas por evolução.
Não !!! Todos os espíritos sempre foram, são e serão bem-vindos às Instituições Umbandistas porém adequadas às bases diretrizes e características de nossa religião.Preservemos a identidade de nossa Crística Umbanda.
Que Oxalá nos ampare!