**ASSIM É A UMBANDA**

Zélio Fernandino de Moraes, filho de Joaquim Fernandino Costa e Leonor de Moraes, homem de fé e muito dedicado à família, casou-se cedo, aos dezoito anos, com Dona Isabel, tendo três filhos, Zélio, Zélia e Zilméia


Já foi um ilustre desconhecido aos umbandistas, sua história foi contada, recontada e contestada por muitos. Hoje, Zélio de Moraes é quase um mito dentro da religião. O "Pai da Umbanda" teve sua história popularizada por alguns escritores hoje todos eles de renome no meio Umbandista.

A comemoração do centenário da Umbanda é unanimidade nacional, fundamentada na história do Zélio, como marco Zero e pedra fundamental para a religião. Não pretendo nestas linhas repetir os fatos do dia 15 de Novembro de 1908, espero antes que todos já os conheçam. Relato aqui, apenas, alguns dos fenômenos impressionantes da vida mediúnica de Zélio, que justificam tamanha adoração e encanto que ele exercia nas pessoas.

A postura como ser humano, já era algo impressionante, costumava, por exemplo, recolher necessitados e doentes em sua casa até que se restabelecessem. Ouvi de Mãe Zilméia, filha carnal de Zélio, e li em alguns artigos a história de que Zélio e o Caboclo das Sete Encruzilhadas teriam ressuscitado uma jovem dada como morta, no entanto desconhecia os detalhes do fato. Este ano me chegou às mãos, através de Diamantino Trindade*, o livro No Mundo dos Espíritos, 1925, de autoria de Leal de Souza (primeiro autor umbandista), onde esta história aparece narrada pelo Sr. J. P. Brigadão:

Há poucos dias, na vizinha cidade de Niterói, uma linda moça na flor da idade, cheia de sonhos azuis e ilusões douradas, adoeceu de enfermidade misteriosa. Foram chamados bons médicos e a enferma não melhorou. Antes, piorou. Novos doutores foram consultados, porém a donzela, agravando-se rapidamente o seu estado foi julgada sem salvação possível. Em desespero, seu pai, um comerciante abastadíssimo, ouviu os conselhos de um amigo e solicitou os socorros ao Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade, onde se manifestam espíritos de caboclos, mas, acabara de pedir tal auxílio, quando recebeu a notícia do desenlace fatal: sua filha falecera às 17 horas da tarde. Voltou o pai em pranto para o lar abalado. Veio um médico, examinou a moça e lavrou o atestado de óbito. Lavou-se e vestiu-se o corpo. Foi colocado, sob flores, na mesa mortuária, entre velas bruxuleantes. Um sacerdote fez a encomendação. Às 8 horas da noite, ao iniciar a sua sessão, o Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade, não tendo sido avisado do falecimento, fez uma prece pela saúde da moça já morta. Manifestando-se o espírito do guia e protetor do centro (Caboclo das Sete Encruzilhadas), disse: “Um grave perigo ameaça a pessoa por quem orais. Continuai vossas preces com fervor e sem interrupção, até que eu volte, pois vou sair para socorrê-la”. Os espíritas do Centro Nossa Senhora da Piedade, orando com fervor, esperaram cerca de duas horas, e, ao termo delas, manifestando-se de novo, o espírito de seu guia e disse-lhes: “Está salva a moça”. Espíritos maus, convocados por motivo de ordem pessoal, haviam envolvido a jovem em fluídos venenosos, que a estavam matando. Não se quebrará, porém o fio que liga o espírito ao corpo.

Às 8 horas da noite, terminou o narrador, a moça continuava na mesa funerária, com todos os sinais da morte. Às 9 horas, uma demonstração de vida animou-lhe a face e, percebendo-a, seu padrinho preveniu seu pai. Retirada da câmara mortuária e reposta em seu leito, a moça reabriu os olhos, e momentos após, erguia-se curada, completamente boa. Os espíritos dos caboclos, em combate travado no espaço, tinham vencido os espíritos maus...

Talvez este seja o caso mais impressionante; Em direção à Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, acorriam enfermos, cegos e até paralíticos que encontravam ali, muitas vezes a cura. O que é enfatizado (a cura) no ponto de Pai Antônio:

“Dá licença, Pai Antônio,
Eu não venho visitar,
Eu estou bastante doente,
Venho para me curar.”

Uma das especialidades de Zélio e do Caboclo das Sete Encruzilhadas era a cura de "loucos". Devido ao alto índice de acerto, médicos de sanatórios consultavam Zélio para saber quais doentes teriam a cura na Umbanda.

A policia quando prendia alguém descontrolado levava ao Zélio para saber se era louco ou obsediado, conta Mãe Zilméia que não tinha hora, as vezes duas ou três da manhã, batiam a porta de seu pai, lembra ainda de certa ocasião em que acomodaram três pessoas desequilibradas em sua casa de uma só vez; “um queria tomar banho o tempo todo e outro não queria de jeito nenhum”.

No Mundo dos Espíritos, Leal de Souza registra, em reportagem, sua primeira visita aos trabalhos de Zélio, como jornalista, onde mesmo sem ser anunciado e desconhecido de todos os presentes, foi reconhecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, que se dirigiu a ele, conforme o relato:

Pode dizer que apertou a mão de um espírito. À minha esquerda, está uma irmã que entrou aqui com tuberculose e à minha direita um irmão vindo do hospício. Curou-os, aos dois, Nossa Senhora da Piedade. Pode ouvi-los.

Leal de Souza neste dia presenciou a cura de um “louco fugido do hospício”, que encontrava-se obsediado por duas entidades, após serem encaminhadas restabeleceu-se a saúde mental do cidadão.

Leal de Souza era um intelectual da época, jornalista e poeta parnasiano, tornou-se médium na Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade e foi preparado para dirigir a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das Sete Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.

João Severino Ramos, dirigente da Tenda São Jorge, mais uma das tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, ao fazer sua primeira visita a Zélio em Cachoeiras de Macacu, se mostrava cético e incrédulo, pedindo provas para crer.

O Orixá Malet (da vibração de Ogun) pegou uma pedra à beira do rio e acertou bem no meio da testa de Severino que caiu dentro das águas. A entidade proibiu os amigos de socorre-lo e pediu que esperassem, minutos depois Severino atravessou as margens do Rio Macacu já incorporado de Ogun Timbiri, com quem trabalharia à gente da tenda citada.

José Álvares Pessoa, o Capitão Pessoa, de origem espírita, resolveu visitar a TENSP, para verificar de perto “as maravilhas” que afirmavam sobre Zélio de Moraes. Assim que pisou dentro da Tenda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou que já poderiam fundar a ultima das sete tendas, a Tenda São Jerônimo, pois o seu dirigente acabava de chegar. Capitão Pessoa se surpreendeu com tal afirmação por não conhecer ninguém no ambiente, mas ao conversar com o Caboclo entendeu que este o conhecia e muito bem. O tempo mostrou a importância de José Álvares Pessoa na Umbanda ao lado de Zélio de Moraes e à frente da Tenda a ele reservada.

Conta ainda Mãe Zilméia que o delegado de Neves, Sr Paula Pinto, vinha fechando as Tendas de Umbanda e um dia chegou à porta da TENSP, na hora dos trabalhos onde estava em terra Pai Antônio. Mãe Zilméia foi avisar ao preto-velho, que falou: “carneirinho (como chamava Zilméia) deixa ele entrar”.

O homem “que era gordo e grande”, deu dois passos e caiu estirado no chão. Mãe Zilméia diz ter perguntado “O que fazer agora?”, o preto-velho, calmamente, lhe pediu que esperasse, logo o homem se levantaria.

Passado algum tempo o delegado “acordou”, foi conversar com Pai Antônio, se tornou amigo de Zélio de Moraes e freqüentador da casa.

Evaldo Pina médium da Tenda Mirim Santo Expedito, fundada no Pará pelo Tenente Joaquim Bentes, mais tarde pertencente à TULEF, em visita à Zélio ouviu dele a “descrição da fundação da casa, em todos os pormenores, como se o fato data-se de semanas, apenas. E através de Zélio recebeu uma mensagem do dirigente, já desencarnado, citando fatos conhecidos apenas pelos dois”.

E para finalizar faço lembrar os fatos narrados por Pai Ronaldo Linares sobre seu encontro com Zélio de Moraes.

Quando finalmente conseguiu o telefone da residência da família Moraes, Pai Ronaldo, um desconhecido àquela família, fez a ligação e foi atendido por Zilméia, que comunicou sem tapar o bocal do telefone, dizendo Papai é para você.

Pai Ronaldo, que sempre se emociona ao contar esta história, nos diz que ouviu uma voz no fundo dizer :

“É Ronaldo minha filha, o homem que vai tornar meu trabalho conhecido”.

Ao chegar na casa de Zélio, Pai Ronaldo mais uma vez tomado de forte emoção se ajoelhou e tomou a benção, Zélio de Moraes já sabia por que ele estava ali e todas as coisas que ele queria saber.

As palavras proféticas de Zélio se cumpriram, Pai Ronaldo Linares, então presidente da Federação Umbandista do Grande ABC e responsável pelo Santuário Nacional da Umbanda, criou o primeiro curso de Sacerdotes na Religião de Umbanda, da onde brotou grande divulgação da mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Pai Ronaldo Linares viria a participar em programas de Rádio e TV, além de Jornais, divulgando a Umbanda e a história de Zélio de Moraes.

Homenageou Zélio em vida, junto com sua turma de sacerdotes, o que foi registrado por Jota Alves de Oloveira em sua obra Umbanda Cristã e Brasileira:

Ouvimos, de Zélio e Zilméia, a descrição do que foi a grande concentração promovida pela Federação Umbandista do Grande ABC, de Santo André, Estado de São Paulo, em homenagem a Zélio... aquela Federação, presidida por Ronaldo Linares, visa uniformizar o culto dos templos umbandistas, excluindo gradativamente do ritual os preceitos já superados, a fim de atingir, na prática, o conceito definido pelo Caboclo: Umbanda é a manifestação do Espírito para a caridade.

Existem muitas histórias sobre o “Pai da Umbanda”... No entanto a maioria delas é desconhecida no meio umbandista. Este é o nosso objetivo, resgatar os textos que nos revelam quem foi, o que fez e como viveu Zélio Fernandino de Moraes, ampliando a abordagem para sua prática mediúnica e a mensagem que foi dada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas ao longo dos anos.
Salve a Umbanda Sagrada! Salve todos os Orixás Autor: Alexandre Cumino