**DESPERTANDO A CONSCIÊNCIA**

Chovia continuamente naquela tarde de quinta-feira.No pátio de imponente Centro Espírita expressivo número de pessoas esperava, ansiosas, mais um dia de estudos doutrinários acerca do mundo, Além de receberem ensinos sobre temas das obras Kardecistas, teriam um maior tempo para dirimirem dúvidas com instrutor, que a partir daquela data reservaria os vinte minutos finais da aula para responder eventuais indagações. Os trabalhos estariam a cargo do professor Fernando, dedicado membro da seara espírita e incansável propagador da codificação kardequiana há mais de 15 anos, não poupando esforços para transmitir aos aprendizes aquilo que julgava benéfico para o aprimoramento moral e espiritual de cada um. Os ponteiros do relógio registravam 16:00 hs quando, após uma edificante prece, deu- se início as atividades instrucionais. Entre um e outro parágrafo de específico capítulo da obra O Livro dos Espíritos, Fernando, com sua grande capacidade intelectual e apurada oratória, elucidava as informações aglutinadas pelo eminente pedagogo francês. Os alunos, atentos, ouviam maravilhados as explanações proferidas pelo fluente expositor espírita. Terminada a 1ª fase da doutrinação chegava, enfim, o momento tão esperado pelos assistentes, oportunidade para que estes pudessem suscitar dúvidas de diversas ordens. Uma volumosa penca de perguntas veio à tona, obrigando o instrutor a desdobrar-se para eficientemente responde-las. Em meio à euforia reinante no auditório levantou-se da poltrona uma senhora de cabelos grisalhos, trajando vestido de cor perolada, solicitando esta que o prof. Fernando tecesse considerações sobre as manifestações espirituais que se realizavam na Umbanda. O palestrante, antes amável e servil, transfigurou-se ante a inesperada questão colocada sob sua análise. Ruborizado, não conseguia disfarçar sua até então oculta repulsa pela Umbanda. Limitou-se a dizer que as formas de apresentação de espíritos naquele segmento religioso não tinham sentido, nenhuma finalidade aproveitável, e, no mais, espelhavam o animismo, a mistificação e o primitivismo que imperavam em tal Culto. Entrecortado por pequenos murmúrios, o silêncio era geral. Alguns alunos balançavam a cabeça afirmativamente, apoiando a opinião de Fernando. Outros, assustados com a abrupta mudança de comportamento daquele, limitavam-se a observar indagante e indagado. Alguns segundos passaram até que a senhora, agradecendo a resposta dada, voltou a tomar assento. Restabelecida a normalidade das atividades, o orador, sob efeito do acontecimento, após a prece terminativa, deu por encerrado o presente estudo doutrinário. Sete dias se passaram. Era noite. Em seu apartamento, Fernando, cansado em razão de mais um dia de labor profissional, não via a hora de poder desfrutar do conforto de seu leito. Ao sair do banheiro, subitamente sentiu uma intensa onda de energia a deixa-lo arrepiado “dos pés a cabeça”. Diante da estranha sensação, orou como nunca. A vibração se dissipou. Estava aliviado. Contudo, ao recostar-se na cabeceira da cama novamente intensa carga energética de poderoso magnetismo o atingiu. Atordoado, fixou seu olhar para a porta do aposento e, espantado, observou um vulto que emanava cintilante luminosidade azul-claro. Paralisado com a aparição, Fernando ouviu uma lhe dizendo: “Irmão, faremos uma visita. Adormeça agora”. Ato contínuo o professor entrou em profundo sono. Emancipado de seu corpo físico que jazia sustentado pelo corpo vital, Fernando via-se agora dentro de um salão de teto, paredes e pisos brancos. Pelas características de seu interior e dos acessórios nele presentes, identificou como sendo um Templo de Umbanda. Havia grande movimentação de sombras que paulatinamente iam tomando suas respectivas formas, num belíssimo cenário ideoplástico. Mentalmente se perguntava por que motivo fora trazido àquele lugar, de vez que nenhuma afinidade nutria por aquele tipo de trabalho, além de possuir conceitos que contrariavam o que via. Com sua “visão” cada vez mais nítida, conseguia, surpreso, enxergar espíritos índios, negros africanos e crianças. Observou que na assistência havia inúmeras pessoas cujas fisionomias expressavam diferentes tipos de problemas. O professor sentia-se impotente diante de uma situação para ele desconhecida. Não sabia como proceder ante o inusitado quadro religioso. Cânticos harmoniosos o deixaram em estado de profunda paz espiritual. Tentando concatenar as idéias que orbitavam em sua mente, foi sutilmente tocado no ombro. Virou-se e ao seu lado postava-se um homem de meia idade, vestindo elegante terno branco e calçados da mesma cor, que lhe direcionou um fraterno sorriso. Identificou-se como sendo seu Guardião e que tinha recebido ordens para acompanha-lo àquele local para importante aprendizado. Fernando, feliz por ter tido a oportunidade de conhecer um de seus protetores, já formulava diversas questões ao seu amigo espiritual quando foi convidado por este a posicionar-se na parte central do recinto. Os consulentes começaram a se dirigir para as Entidades Espirituais e o Guardião pôs-se a emitir considerações ( ensino) ao expositor espírita. “Veja irmão Fernando. Observe esta moça que é encaminhada ao Caboclo”A”. Ela passa por momento de grande insatisfação em virtude de desvio de comportamento. Influenciada por más companhias, tornou-se desidiosa no trabalho, desatenta na faculdade e indisciplinada em sua casa. Nestes casos, os Caboclos e Caboclas são os agentes que mais se adequam no tocante a solução do drama. São doutrinadores, disciplinadores, altivos, dinâmicos e rígidos em suas colocações”. Enquanto assimilava os ensinamentos do Guardião, Fernando, observava, atento. A Entidade espiritual pouco a pouco elevava a auto-estima e a confiança da consulente. Olhava-a fixamente ao mesmo tempo em que fazia severas advertências ao modo de proceder da moça, e as conseqüências que poderiam advir com a continuação de sua postura. A consulente, antes abalada pelo choque psíquico provocado pelas duras mas severas palavras do Caboclo, começava a conscientizar-se do caminho errado que estava trilhando. Não mais estava de cabeça baixa, olhar perdido, desanimada. Além das palavras da individualidade espiritual, absorvera também fluídos magnéticos positivos projetados pelo Caboclo, importantes à sua recuperação. Despediu-se do espírito com o corpo ereto, voz firme, cabeça erguida, e com uma confiança sem igual em seu futuro. “Fernando!, exclamou o Guardião. Passemos ao caso seguinte”. Amparada pelo marido, distinta senhora chorando compulsivamente era levada à presença da Preta-Velha “B”. Há dois meses perdera sua única filha, acometida de derrame cerebral. Não se conformava com Deus por ter tirado dela a razão de seu viver. Fernando, consternado com a situação daquela inconsolável mulher, passou a receber por parte do acompanhante espiritual as devidas explicações pertinentes. Dize- lhe este que naquele momento a sofrida genitora necessitava de carinho, consolo e amor maternais. E os Pretos-Velhos e Pretas-Velhas são exímios psicólogos da alma. Com sua meiguice, humildade, paciência e sabedoria, transmutam os sentimentos de inconformismo, raiva, desespero, em amor, serenidade e paz espiritual. Protegido e Protetor passaram a ouvir as doces palavras da iluminada Mãe Preta. Fazia lembrar à angustiada senhora de momentos felizes que passara com sua filha e de que Deus, na sua infinita misericórdia, a amparava em seu novo plano evolucional. Falava sobre o caráter temporário das encarnações e da importância em sorver o maior número possível de lições, seguindo o caminho do reto proceder. Disse-lhe ainda que a filha querida cumpriu satisfatoriamente sua estada física no planeta. A suave Preta-Velha orientou a mãe a não se corroer com o afastamento temporário, pois se assim procedesse poderia interferir na paz, na tranqüilidade e na evolução da filha. A genitora, já sem lágrimas, começava a assimilar os sábios conselhos do espírito amigo. Após um longo e afetuoso abraço o diálogo foi encerrado, prometendo a genitora voltar aquele lugar. Espírito e assistente trocaram olhares amorosos e se despediram. Satisfeito com a melhora notória da assistente, Fernando, inconscientemente, lembrou-se do que havia dito durante a aula doutrinária da semana passada. Foi interrompido educadamente pelo irmão espiritual que lhe levou para presenciar o terceiro caso da noite. Tratava-se de um homem rude, coração pétreo, insensível aos problemas da humanidade. Arrogante, não tinha compaixão pelas as pessoas, as quais tratava com indiferença. Fora trazido a contragosto pelo filho,na esperança de que o pai pudesse deixar aflorar sentimentos há muito adormecidos. Neste contexto, asseverou o Guardião, nada mais salutar do que este assistente ser atendido pelas as Crianças Espirituais. Ante a fisionomia de Fernando, o amigo protetor lhe explicou que Crianças Espirituais, também nominadas Ibejis ou Ibejadas, são espíritos que se apresentam com o corpo astral de crianças, afim de melhor cumprirem suas funções junto aos necessitados. Passaram a testemunhar o atendimento que se iniciava. Ao estar diante da “criança” o sisudo assistente foi surpreendido por um pedido de benção da Entidade Espiritual. Chamando-o sempre de “tio”, o espírito tratou logo de brincar com aquele, dando risadas e emanando a pureza e a alegria infantil. Ofereceu uma bala. Fez o assistido degustar uma pequena porção de cocada, sendo tais comestíveis impregnados com fluídos astrais. O Ibeji fazia gracejos, ria sem parar, insistia que o homem lhe desse um sorriso. O consulente, começava a externar tímidos sorrisos, que aos poucos se transformaram em espontâneas gargalhadas. Enfim a Entidade Espiritual o tinha envolvido em sua faixa vibratória. O filho que a tudo assistia estava impressionado com a mudança comportamental do pai. Agora parecia uma criança brincando e se divertindo com outra. Em dado momento o Ibeji pediu ao “tio” que não ficasse mais aborrecido e com cara feia; que ajudasse as outras pessoas como pudesse, e que ela, a Criança Espiritual, estaria por perto sempre que ele precisasse, para alegra-lo e dar a felicidade que tanto necessitava para bem viver. O outrora pedante homem, entre lágrimas e sorrisos, tinha rompido as barreiras fluídico-magnéticas resultantes dos traumas e conceitos errôneos que lhe impediam de ver o mundo mais colorido. O cascão magnético negativo tinha se desintegrado e sua aura denotava substancial mudança de cor e luminosidade. Despediu-se do amiguinho espiritual, prometendo cumprir com o combinado. Ao lado de seu filho, a quem abraçava fortemente, saiu sorridente do salão. Tendo presenciado pessoalmente os dramas das pessoas e de que maneira foram solucionados, Fernando fechou-se em profunda reflexão. Estava desapontado por ter dito palavras tão desabonadoras em relação a Umbanda. Entendia agora por que a Espiritualidade se manifestava em formas perispirituais que presenciara. A sessão continuava, mas o momento da partida era chegado. Já na parte externa do templo, o professor perguntou ao seu acompanhante sobre as entidades conhecida como Exus. O Guardião então fez Fernando visualizar espíritos que se posicionavam na porta da Casa Umbandista, dizendo: “Aqueles são os Exus, sentinelas de todas as casas religiosas. Preservam a disciplina e impedem a infiltração de zombeteiros e obssessores no templo. É a tropa de choque, sempre em alerta contra quaisquer eventualidades. Exercem outras funções, como a que estou realizando em relação a você. Devemos ir”. Os primeiros raios de sol já despontavam no horizonte quando Fernando acordou. Toda aquela experiência espiritual estava gravada em sua mente. Necessitava reavaliar seus conceitos sobre o mundo espiritual. A espiritualidade, pensava ele, não se restringe ao espiritismo. É um mundo maior com diferentes características, abordagens, formas de trabalho e mensagens de diversas ordens. O tempo passa e Fernando mais uma vez a frente das atividades doutrinárias do Centro espírita, na mesma turma onde tinha disparado seus torpedos ofensivos, pediu licença aos alunos para expor a experiência vivenciada: “Queridos alunos, tive a minha consciência despertada. Em desdobramento espiritual fui levado ao um Templo Umbandista e lá se passou o seguinte: “.................................. . Saravá Umbanda !!!